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Simesp homenageia médicos que denunciam a letalidade policial no Brasil

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23/06/2025 | Notícia Simesp

Simesp homenageia médicos que denunciam a letalidade policial no Brasil

O 1º Congresso do Simesp foi palco de uma emocionante homenagem aos médicos intensivistas Silvia Mônica Cardenas Prado e Julio César Acosta Navarro, que vêm atuando incansavelmente no enfrentamento à violência policial no Brasil. Desde novembro de 2024, quando o filho do casal, Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, foi morto durante uma abordagem da Polícia Militar em um hotel na Vila Mariana, zona sul da capital paulista, os dois médicos transformaram a dor da perda em mobilização coletiva. Hoje, integram uma rede de familiares de vítimas de violência do Estado e contribuem para dar visibilidade ao que o doutor Julio chamou de “uma guerra civil contra pessoas pretas, pobres e periféricas”.

A homenagem do Simesp, marcada por forte emoção, reconheceu não apenas a atuação profissional dos dois médicos na linha de frente da saúde pública, mas também o papel que passaram a desempenhar como vozes de denúncia e resistência. Durante o agradecimento, a doutora Silvia Mônica falou sobre a entrega à medicina e ao trabalho nos hospitais públicos, muitas vezes em longos plantões, afastada dos filhos. “Será que valeu a pena? Será que eu deveria ter me dedicado tanto à medicina e deixar os filhos?”, questionou, emocionada. Ela lembrou que, apesar de toda dedicação, o Estado falhou em oferecer um mínimo de solidariedade: “A gente é herói em certos momentos, mas quando acontece uma tragédia conosco, a gente não consegue receber um abraço de solidariedade”.

O doutor Julio também se dirigiu aos presentes e compartilhou a mudança profunda que viveu desde a morte do filho. Ao se formar, contou, assumiu o compromisso de ser cientista, professor e pesquisador. Mas foi em novembro de 2024 que a vida o confrontou com um novo chamado. “Aquele dia mudou minha vida. Não mais penso em paper, não mais dou aulas, não mais faço projetos, porque a vida me ensinou que o compromisso de um homem, de um profissional, é lutar pela justiça”, afirmou.

Ambos ressaltaram que a violência que atinge sua família não é um caso isolado. Ao contrário, reflete um padrão de atuação estatal que naturaliza execuções e silencia o sofrimento de mães, pais, irmãos e companheiros que perdem seus entes queridos para a mão armada do Estado. A ausência de respostas por parte do governo estadual — que, seis meses após o crime, não pediu desculpas e permitiu que os policiais envolvidos voltassem ao trabalho — agrava a dor e escancara o desprezo pelas vidas atingidas pela violência institucional.

Com a entrega da menção honrosa, o Simesp reafirma seu compromisso com a defesa da vida, da dignidade e da justiça. A luta de Silvia e Julio é também a luta do sindicato e da categoria médica por um país mais justo, em que a profissão não seja apenas sinônimo de cuidado com a saúde, mas também de posicionamento ético diante das injustiças que atravessam a sociedade brasileira.

Denúncia na ONU

Um dia após a homenagem do Simesp, o casal de médicos viajou para Genebra, na Suíça, para participar da 59ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Ao lado da organização não governamental (ONG) Conectas Direitos Humanos, Julio Cesar e Silvia Mônica denunciaram o caso do filho, pediram a responsabilização dos policiais envolvidos, além de solicitarem que a ONU recomende ao Estado brasileiro uma série de medidas para diminuir a letalidade policial e dar a devida assistência às vítimas e seus familiares.