Paralisação e mobilização nesta sexta-feira (3/10) denunciam precarização do trabalho e riscos à desassistência em hospital de referência
Médicos residentes paralisaram os atendimentos nesta sexta-feira (3/10), para denunciar o colapso da assistência provocado pelo calote nos salários da equipe de enfermagem quarteirizada. Na manhã do mesmo dia, profissionais que atuam no hospital e a população realizaram ato público reivindicando o chamamento de profissionais aprovados em concursos, contra a terceirização no instituto e contra calotes nos pagamentos de profissionais quarteirizados.
Desde o dia 25 de setembro, parte dos enfermeiros contratados pela empresa quarteirizada Maestria — responsável por 28 leitos de enfermaria e 10 de UTI — deixou de comparecer ao trabalho por estar há cerca de 50 dias sem receber. O impasse decorre do não repasse de recursos pela organização social (OS) Ideas, que alega pendências administrativas por parte da Secretaria de Estado da Saúde (SES). O resultado imediato foi o fechamento de metade dos leitos de UTI e o bloqueio de internações em uma enfermaria inteira.
Para a presidente da Associação dos Médicos do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (AMIIER), Cláudia Mello, o ato representou um passo importante na mobilização. “Foi muito positivo ver a presença de diferentes categorias profissionais — médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos, assistentes sociais e residentes multiprofissionais. Nossas pautas estão claras: queremos saber de quem é a responsabilidade pelo não pagamento, exigimos a convocação imediata de médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, além da abertura de concurso público para técnicos de enfermagem em todo o estado. O Emílio Ribas precisa voltar a ser 100% público, com trabalhadores concursados na administração direta”, defende a diretora.
O presidente do Simesp, Augusto Ribeiro, reforça que a crise vivida pelo hospital evidencia a falência do modelo de terceirização e quarteirização na saúde pública. “Estamos no estado mais rico do país, mas os médicos e os pacientes convivem com vínculos de trabalho precários e com o risco diário de ver a assistência paralisada por falta de pagamento. O calote no Emílio Ribas é mais um retrato de como as OSs e empresas intermediárias comprometem a vida dos profissionais e a segurança da população”.
Entre as reivindicações dos profissionais estão: a elaboração de um plano de contingência para retomada da assistência, o desbloqueio imediato dos leitos interditados, a contratação de novos concursados de enfermagem e médicos, e o fim da dependência de equipes terceirizadas.
Apesar de ser referência histórica no combate a epidemias como HIV, febre amarela, COVID-19, mpox e dengue, o hospital acumula problemas crônicos, como a falta de pessoal, a instabilidade gerada pela terceirização e uma reforma que já dura 11 anos, sem entrega da capacidade prometida de 300 leitos.
Ato contra fechamento de leitos de UTI como consequência de calotes no Instituto de Infectologia Emílio Ribas