“A dúvida que fica no ar, e que a gestão precisa responder, antes de convencer a população se é bom ou não fechar AMAs, é de como vai fazer essa mudança sem atrapalhar a vida das pessoas e sem dificultar o acesso das pessoas aos serviços de saúde”, questionou o presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), Eder Gatti, em audiência realizada pelo Ministério Público na última terça-feira, 27.
“A nossa defesa é de um projeto que, retirando esse serviço, cubra toda a população e dê conta de toda a nossa complexidade”, defendeu, na mesma audiência, o médico Stephan Sperling, integrante do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (CEBES).
Gatti, na ocasião, também apresentou os dados preliminares de uma pesquisa feita entre os médicos para avaliar como a Prefeitura de São Paulo está conduzindo a proposta de fechamento das 108 unidades de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) na capital paulista. O estudo ainda está sendo finalizado.
A audiência foi coordenada pela promotora Dora Martin Strilicherk, da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos da Capital, Área da Saúde, e lotou, muito além da capacidade de 277 lugares, um dos auditórios da sede do Ministério Público no centro de São Paulo. O promotor Arthur Pinto Filho também acompanhou o evento.
Eder Gatti ainda criticou a falta de transparência da Prefeitura sobre o assunto. “Os médicos não sabem o que está acontecendo, nem o que acontecerá”, disse. “O que a gestão vai fazer com esses médicos”, perguntou o infectologista. “Tudo isso precisa ser feito de forma paulatina e com um amplo debate com os trabalhadores”, exigiu Gatti. “Qualquer projeto de reestruturação não pode ocorrer sem um amplo diálogo com todos os setores”, concordou, minutos depois, o médico Stephan Sperling. “A gestão desconhece o território”, acrescentou.
O presidente do Simesp reforçou, ao longo da sua fala, que independente do teor da proposta, a Prefeitura tem a obrigação de garantir o acesso das pessoas aos serviços de saúde. “O número de equipes, de médicos, o número de unidades será o suficiente”, perguntou. “E como a prefeitura vai valorizar os médicos de família”, questionou. Afinal, o poder municipal tem dito que pretende fechar serviços para reforçar a estratégia saúde da família, tida como um dos pilares do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Fica evidente que há um conflito muito grande entre o modelo constitucional e as lutas populares que levaram à efetivação do SUS, não só como um conjunto de serviços e de atenção à saúde, mas, principalmente, como um direito constitucional, e o projeto de reestruturação que está sendo colocado agora”, avaliou Stephan Sperling, que é médico de família e comunidade do município de São Paulo.