Moratória na abertura de novos cursos médicos. É o que defendeu Milton de Arruda Martins, professor titular de Clínica Médica Geral da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e diretor do serviço de Clínica Geral do Hospital das Clínicas da USP, durante debate realizado na noite de 7 de maio, na sede do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp).
Ele fez uma projeção, com base no tempo médio de trabalho do profissional médico ao longo da vida e nos ingressantes em novos cursos, que demonstra que haverá uma quantidade muito maior de médicos do que o necessário no futuro. O que, no longo prazo, ele classificou como uma “bomba relógio”.
Ao final do debate, o presidente do Simesp, Eder Gatti, destacou o trabalho do professor Milton de Arruda Martins: “os resultados do estudo mostrou o impacto desastroso da abertura indiscriminada de escolas médicas nos próximos anos, tanto na formação quanto no mercado de trabalho.”
“Acho que o problema não é abrir, mas discutir algumas coisas que vão além de abrir cursos”, defendeu Sigisfredo Luis Brenelli, docente da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp) e presidente da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem).
Para Brenelli, o país nunca discutiu uma política consistente de recursos humanos para saúde. Ele se disse preocupado com a abertura “indiscriminada” de vagas em cursos de medicina e com a formação desses profissionais. Por fim, citou alguns aspectos que considera essenciais para a abertura de cursos que não estariam sendo observados, como corpo docente qualificado e infraestrutura adequada.
Erika Siqueira da Silva, representante do Ministério da Saúde no encontro, justificou a decisão do governo federal de estimular a abertura de cursos com base no número desses profissionais no Brasil (que é de 1,8 médico por cada mil habitantes). Média abaixo da dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A intenção do governo é aumentar o número de médicos formados no país de 374 para 600 mil até 2026. Alcançando, dessa forma, a meta de 2,7 médicos por mil habitantes. O que se insere nos objetivos da Política Nacional de Expansão das Escolas Médicas das Instituições Federais de Educação Superior.
Erika é coordenadora da Área Pedagógica do Departamento do Planejamento e da Regulação da Provisão dos Profissionais de Saúde (DEPREPS), da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) do Ministério da Saúde.
“O mais importante foi ter pessoas da sociedade civil, movimentos populares e outras entidades aqui presentes no debate, podendo contribuir e entender melhor o tema. Esse tipo de discussão permite ao Simesp se embasar e tomar suas decisões, suas posições, enfim, suas defesas”, concluiu Eder Gatti.