Nota política do Simesp diante da eleição do CFM
O Conselho Federal de Medicina (CFM) é uma autarquia federal, cuja missão é a normatização da prática médica no Brasil e a defesa da saúde da sociedade, sempre alinhado aos preceitos constitucionais. Infelizmente, nos últimos anos, temos visto a degeneração dessa entidade, que se mostrou vacilante diante de temas importantíssimos para a saúde pública e cativa de interesses políticos obscuros.
Durante a pandemia de Covid-19, contradizendo as sociedades de especialidades e as mais atualizadas recomendações científicas, o CFM transigiu com a desinformação e o uso desenfreado de medicamentos sem evidência de benefício para a doença, como ivermectina e hidroxicloroquina. Com isso, contribuiu para o uso irracional de insumos médicos, aumento da incidência de efeitos adversos e uma falsa sensação de segurança na população durante os momentos mais delicados de uma emergência sanitária de dimensões globais. Ao Brasil resta o saldo de 700 mil óbitos relacionados à Covid-19, com um desempenho posicionado entre os piores do mundo no manejo da doença.
Novamente ao lado da desinformação, recentemente divulgou pesquisa entre médicos, com metodologia duvidosa, questionando a respeito da obrigatoriedade da vacinação para Covid-19 em crianças. Colabora, dessa forma, com a hesitação vacinal, em um país que sempre foi referência em programas de vacinação, mas vê sua média de cobertura vacinal em crianças despencar desde 2019. Não podemos supor que uma autoridade médica ignore os efeitos nefastos do discurso antivacina, portanto somo levados a concluir que a entidade foi capturada pela disputa narrativa político-partidária ensejada pela pandemia.
Essa postura anticientífica tem minado a confiança da sociedade na categoria médica, além de descredibilizar os profissionais que buscam tomar condutas atualizadas, baseadas em evidências científicas e no princípio ético da não-maleficência. Favorece o nosso descrédito também a omissão do Conselho diante da disseminação de procedimentos com fim estético ou de bem-estar, praticadas em grande parte por pessoal não capacitado, que tem exposto os brasileiros a riscos desnecessários e a óbitos, com casos amplamente noticiados pela imprensa.
Nos últimos meses, numa postura tão ousada quanto danosa, o CFM tem se manifestado contrariamente à interrupção de gestação nos casos previstos em lei, expondo médicas e médicos dedicados a fazer o melhor por seus pacientes à perseguição de natureza política perpetrada por conselhos regionais. Editou resolução sobre a assistolia fetal simultaneamente à emergência desse tema no Congresso Nacional, ultrapassando sua competência e envolvendo-se em polêmica que pouco diz respeito à medicina.
Agora, às vésperas das eleições de conselheiros para o órgão, convocamos todas as médicas e médicos do estado de São Paulo a votarem visando a reconstrução da imagem da medicina brasileira e a defesa da saúde da população. Não podemos ter um conselho refém da demagogia parlamentar.