Dourado, que atualmente faz especialização em anestesiologia na Santa Casa de São Paulo, realizou um estudo para sua iniciação cientifica sobre os aspectos (econômicos e ideológicos) que a medicina contribui na sociedade capitalista. Questionou o tema por causa da militância no centro acadêmico e na executiva de medicina, que era considerado senso comum no movimento de saúde, e parecia colocar o Sistema Único de Saúde (SUS) como um problema, sem refletir de que forma o SUS contribuía na reprodução da sociedade capitalista.
O médico concluiu que os serviços de saúde pública não se contrapõem à lógica capitalista, pelo contrário, são mecanismos importantes de expansão das funções exercidas pela medicina para o âmbito de toda a sociedade. “Essa conclusão tem um fundo político muito importante, pois serve de alerta aos atuais movimentos sociais, da necessidade de não mantermos nossas lutas presas ao campo da prestação de serviços públicos versus privados ou a disputa entre aqueles que defendem mais Estado contra menos Estado”.
Com relação aos serviços médicos privados, Dourado constatou que há mais uma forma da contribuição da medicina ao capitalismo, que seria a da exploração direta do trabalho do médico, pelo dono dos meios de produção. O médico levou em consideração que, o trabalhador da saúde, assim como qualquer outro, vê seu produto ser apropriado por outrem e recebe apenas parte do valor que produziu. Ou seja, garante o lucro dos donos dos planos de saúde.
Outro aspecto considerado importante para o médico e que foi analisado em sua pesquisa, é a contribuição da medicina ao capital a partir da prescrição de medicamentos, pois influência o paciente ao consumo de produtos e procedimentos que lhes foram prescritos. Desta forma, acaba contribuindo para o lucro das indústrias farmacêuticas, alimentícias, equipamentos, leitos e móveis de hospital etc.
Dourado ainda afirma que, a prática médica assume funções sociais: consumo de mercadorias do complexo médico-hospitalar, normatização, reprodução da força de trabalho, contenção social e realização da mais-valia diretamente através da exploração do trabalho do médico.
Atuação sindical
De acordo com o médico, muito já foi desenvolvido pela história do movimento sindical médico e, diante do momento histórico e das atuais possibilidades que estão se abrindo, o desenvolvimento do sindicato pode ser ainda maior. “O momento exige que nós nos reinventemos, para assim, conseguirmos dar conta das novas formas de precarização do trabalho e das dificuldades de organização dos trabalhadores frente à reestruturação produtiva, em especial da terceirização e pejotização da classe”, ressalta.
Ao falar sobre o passado, o médico lembra os motivos que o levaram a escolher o curso de medicina, dentro deles havia o receio de passar por necessidades financeiras. Atualmente Dourado reside em São Paulo, e durante sua graduação colaborou no Fórum Popular de Saúde, coordenou Políticas de Saúde da Denem, e teve atuações pontuais na luta do movimento estudantil geral através do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Unicamp. “Ao final da graduação vim para São Paulo e comecei a participar do Fórum Popular de Saúde da cidade. Minha aproximação com o Simesp se intensificou em meio às greves e manifestações de residentes das quais participei. A abertura que o Sindicato promove para conduzir as lutas estimulou a minha sindicalização e participação com assiduidade das assembleias e reuniões da diretoria”, lembra.
O médico também participou ativamente na pauta do fechamento dos serviços de saúde na cidade de São Paulo, promovido pela gestão de João Doria. Dourado representou o Simesp durante as visitas de fiscalização às unidades junto ao Ministério Público Estadual, quando foi constatado o colapso que estava a saúde municipal, devido a medida da prefeitura.
*Texto publicado na seção Plantão Médico, da 35ª edição do Jornal do Simesp, com colaboração de Miréia Lima.