O Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) manifesta seu mais profundo repúdio à operação policial realizada nesta terça-feira (28) nos Complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, que resultou oficialmente em 119 mortos, segundo dados da Polícia Civil (estima-se que o número real de vidas ceifadas seja superior a 130) — que supera o massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, em São Paulo.
Enquanto o governo fluminense promove ações bélicas em territórios populares, a vida humana — valor inegociável para a medicina — é tratada como descartável. A operação, que paralisou seis unidades de atenção primária à saúde e interrompeu o atendimento a milhares de moradores, escancara o impacto direto dessas ações sobre a assistência e o direito fundamental à vida e ao cuidado.
A tragédia que tirou a vida de 119 pessoas não pode ser dissociada da ausência de políticas públicas estruturantes. Ao invés de garantir emprego, moradia, educação e acesso digno à saúde, o Estado tem respondido à desigualdade com violência e repressão. A vida dos moradores dessas comunidades não tem relação com o conflito armado imposto pelo tráfico, mas é constantemente colocada em risco por uma política que abandona direitos e substitui políticas sociais por operações policiais. O resultado é o agravamento da exclusão e a naturalização da morte nas periferias.
A política de segurança pública que se institucionaliza no Rio de Janeiro e em São Paulo — sob as gestões de Cláudio Castro e Tarcísio de Freitas — reforça uma mesma lógica que criminaliza e extermina o povo preto, pobre e periférico. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, São Paulo foi o estado com maior crescimento de mortes cometidas por policiais em 2024, evidenciando a expansão dessa política de extermínio em todo o país.
O Simesp reitera que a dignidade da vida humana é princípio fundante do exercício médico e do Sistema Único de Saúde (SUS). Nenhuma ação estatal pode se sobrepor a esse valor.
É necessário resposta imediata e efetiva diante do massacre no Rio de Janeiro e da escalada da violência policial em todo o território nacional. É urgente interromper a política da morte e reconstruir um projeto de segurança e saúde pública que tenha a vida como prioridade.
Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp)
 São Paulo, 29 de outubro de 2025