Dos 2.843 recém-formados em escolas médicas do Estado de São Paulo que participaram do Exame do Cremesp em 2013, um total de 1.684 – ou 59,2% deles – não atingiu o critério mínimo definido pelo Cremesp, ou seja, acertaram menos de 60% do conteúdo da prova. Esses resultados foram apresentados pelo Conselho na tarde desta quarta-feira (22/01/2014), durante coletiva de imprensa, que contou com a presença do presidente da entidade, João Ladislau Rosa, e dos coordenadores do exame, o primeiro-secretário, Bráulio Luna Filho, e o diretor do Centro de Bioética, Reynaldo Ayer.
“Nesses dois anos de exame obrigatório, quase a totalidade de alunos participaram, e os resultados vêm mostrando alto índice de reprovação, sendo que o Exame do Cremesp é muito semelhante ao Revalida – realizado pelo Ministério da Saúde – cujo índice de reprovação também é alto. Chegamos à conclusão, então, que existem problemas tanto na formação do médico no exterior como no Brasil. Por isso, nosso objetivo é divulgar amplamente esses resultados para discutir a qualidade das escolas, e lutar pela implantação do exame nacional obrigatório para ambos os casos, que habilite o exercício da Medicina no país”, afirmou Ladislau, na abertura da coletiva.
Luna Filho ressaltou que o Exame do Cremesp avalia o conhecimento cognitivo e isso é extremamente complexo. Segundo ele, no mundo inteiro se discute a melhor maneira de avaliar os egressos de Medicina, e a conclusão a que se chega é que a prova de múltipla escolha ainda é a melhor opção. “A parte prática apenas encarece o exame e não acrescenta nada”, disse, rebatendo as críticas dos que a consideram necessária.
“Nossa prova avalia se existe conhecimento técnico, como o aluno coordena a informação e qual a melhor conduta a ser adotada, com alto grau de correlação ao exame prático, portanto as críticas que recebemos não têm fundamento”, acrescentou.
Maioria das questões teve índice fácil e médio
De acordo com os resultados da 9ª edição, o índice de facilidade do Exame do Cremesp foi avaliado como “fácil” para 33% das questões e “médio” para 37,5% delas. O índice de discriminação foi classificado como “muito bom” para 41,1% das perguntas e “bom” para 32,1%. O índice de facilidade equivale à proporção de questões corretas dadas pelo conjunto de egressos em cada pergunta. Já o índice de discriminação corresponde ao poder da questão em separar os candidatos que sabem daqueles que não sabem. É obtido pela diferença na proporção de acertos entre os dois grupos extremos de desempenho, o superior e o inferior.
“Considerando esses resultados, a prova do Cremesp não pode ser considerada ‘difícil’, apenas exige o conhecimento mínimo que se espera de um recém-formado em Medicina”, avaliou Luna Filho.
Escolas privadas têm maior reprovação
Outro ponto para o qual chamou a atenção foi a diferença nos índices de aprovação entre escolas públicas e privadas. No Exame do Cremesp de 2013, entre os participantes das escolas paulistas, a reprovação foi maior entre os egressos de instituições de ensino privadas: 71,0% foram reprovados. Já entre os participantes formados em escolas médicas públicas, 33,9% foram reprovados. “Quando se analisa os resultados, vê-se que as escolas privadas praticamente reprovam o dobro que as públicas. Não há novidade, mas isso vem se mantendo há 9 anos e o governo insiste na política de permitir a abertura de novas escolas”, criticou Luna Filho. Para ele, as escolas brasileiras avaliam mal seus alunos. “Hoje a condição para ser médico é poder pagar uma mensalidade de R$ 4 a 6 mil, e as novas escolas contribuem para esse índice desastroso de reprovação”, acrescentou.
Recorde de participantes, também de outros Estados
Com abstenção de apenas 2,8%, o número de participantes em 2013 é o maior ao longo dos nove anos da aplicação do Exame do Cremesp. O percentual de reprovados ficou 4,7 pontos acima de 2012. No ano anterior, foram 2.411 participantes, com 54,5% de reprovação.
A prova foi aplicada no dia 3 de novembro de 2013 em nove cidades paulistas, além da capital do Estado. É o segundo exame realizado depois que se tornou obrigatório para quem deseja inscrever-se no Conselho Regional de Medicina de São Paulo e atuar no Estado. O registro no CRM, entretanto, não depende do desempenho ou da aprovação nas provas.
No total, 3.328 recém-graduados de Medicina fizeram a prova do Cremesp em 2013. Desse conjunto, 485 participantes vieram de 78 instituições de ensino de outros Estados. Os demais 2.843 formaram-se nas 30 escolas paulistas que já têm turmas graduadas. “Vem aumentando a participação de alunos de outros Estados, e o índice de aprovação desse grupo é alto (71%), o que sugere que a qualidade das escolas fora do Estado não é melhor”.
Segundo Ayer, “a avaliação do Conselho é seguramente a maior aplicada a alunos egressos de Medicina no Brasil, e o preocupante é que o índice de reprovação vem se mantendo ou aumentando, revelando um grande déficit de qualidade no ensino médico no país”, alertou.