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App para ebola pode facilitar “revolução” de smartphones na medicina

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31/10/2014 | Notícia Simesp

App para ebola pode facilitar “revolução” de smartphones na medicina

Na medida em que os temores de disseminação do vírus do ebola aumentam, um professor de genômica diz que muito tempo está perdido por não se procurar a solução no lugar mais óbvio: no próprio bolso da roupa. Mais especificamente no smartphone.

"A grande maioria das doenças conhecidas podem ser diagnosticadas com um smartphone", diz Eric Topol, do instituto de pesquisas Scripps, da Califórnia. "Em vez de ficar botanto pessoas em quarentena por três semanas, por que não avaliar se elas têm o vírus no seu sangue?"

Uma resposta mais rápida poderia salvar vida e evitar desastres, como o do paciente em Dallas, nos Estados Unidos, que foi mandado para casa com febre alta. Pouco depois, descobriu-se que era ebola, e ele acabou morrendo.

Topol diz que uma técnica simples de detecção de vírus – a de reação em cadeia de polimerase – já está disponível para aparelhos celulares, bastando apenas um dispositivo extra para coleta e análise do sangue que é barato.

A técnica amplifica traços do DNA da patogenia no sangue do paciente, e "cola" uma tinta fluorescente nele. O smartphone é capaz de detectar essa fluorescência, determinando se uma amostra de sangue está contaminada ou não.

"O Ebola possui apenas cinco genes – então eles são muito pequenos, mas sua presença no sangue deve ser fácil de ser detectada", diz ele.

A empresa americana Biomeme, da Filadélfia, está trabalhando para aperfeiçoar esse método. Maria Chacon Heszele e Jesse vanWestrienen, que estão desenvolvendo o sistema, acreditam que um caso de ebola poderia ser detectado em menos de duas horas, usando apenas uma pequena amostra de sangue retirada do dedo.

No caso da pessoa infectada em Dallas que pegou um avião com 132 passageiros, elas poderiam todas ser monitoradas regularmente para se detectar novas contaminações.

"É de baixo custo, requer pouca manutenção e sua interface é simples", disseram Heszlem e vanWestrienen em e-mail à BBC. Como os dados são estocados em smartphones, eles também podem ser enviados a bases centrais de informação.

Isso possibilitaria que se monitorasse a evolução da doença em toda a população, facilitando decisões sobre isolamento de pessoas e prevenindo contra novos contágios.

‘Revolução’ na saúde pública

Caso seja bem-sucedida contra o ebola, a técnica pode ajudar a disseminar ainda mais o uso de smartphones em questões de saúde pública.
Smartphones já estão ajudando no combate de várias doenças e facilitando a vida de pacientes de outras formas – evitando longas viagens até o hospital mais próximo ou perda de tempo em salas de espera.

Os telefones celulares revelam muito sobre a vida de uma pessoa. Apps simples podem medir a pressão sanguínea, o nível de açúcar no sangue ou até mesmo análise de urina. Além disso, ele revela muitas coisas a respeito de nosso comportamento.

"Com ele, sabemos quando você saiu de casa, em que hospital você está, a velocidade em que se movimenta pelo mundo. É geralmente a última coisa que você toca antes de dormir e a primeira que toca quando acorda – então também podemos entender mais sobre padrões de sono", diz Deborah Estrin da universidade de Cornell.

Ela acabou de fundar uma organização sem fins lucrativos chamada Open mHealth – que quer usar as tecnologias digitais para transformar o mundo da medicina.

Mas poucos médicos utilizam isso a seu favor.

"O casulo no qual vivem os médicos não permitiu ainda uma invasão digital", diz Topol.

Vários pacientes até já são adeptos de usar o smartphone para registrar dados sobre seu quadro de saúde. Mas os médicos reclamam que os apps não são precisos o suficiente para fornecer dados úteis para diagnósticos eficientes.

E um diagnóstico errado pode ser às vezes fatal.

Estrin e Topol sugerem o uso de apps para monitorar e melhorar tratamentos médicos já em curso. Um exemplo são pacientes com condições cardíacas que precisam monitorar sua pressão sanguínea ao longo da semana.

"Assim eles entendem melhor o contexto da sua pressão – que se comporta irregularmente quando eles começam a trabalhar na segunda-feira, ou quando o remédio para de ter efeito à noite. Esse tipo de informação eu não teria como medir só vendo eles no consultório uma vez por semana", diz Topol.

Estrin diz que mapear o movimento de pacientes com artrite reumatóide pode ajudar médicos a criar mecanismos que controlem as crises de dor aguda, que são características dessa doença.

Mas esses exemplos são só o começo da mudança digital.

Alguns acreditam que a combinação de mapeamentos genéticos com análise de informações coletadas com minúcias sobre nossos corpos podem ajudar a entender melhor como as pessoas adoecem.

Esses dados jogariam luz sobre sintomas comuns – como dor de cabeça, insônia ou irritação – que nem sempre são bem explicados.

"Nossa capacidade de desvendar mistérios médicos agora atingiu um ponto sem precedentes", diz Topol.

Ele acredita que o desenvolvimento dessas tecnologias reduzirá o número de consultas médicas no futuro.

"Clínicas e consultórios nunca vão desaparecer totalmente, porque há vezes em que consultas cara-a-cara são imprescindíveis, mas as consultas ‘virtuais’ a médicos vão explodir em breve."